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Simples assim, editorial Trip 258

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Reprodução

Como em outras ocasiões, o tema abordado nesta edição, e em boa parte dos suportes de comunicação que produzimos hoje sob a marca Trip, surgiu de uma questão sobre a qual não havia nenhuma certeza. É mais que evidente que toda a infinidade de coisas que podem ser nomeadas pelos surradíssimos vocábulos "inovação" e "tecnologia" produziram importantes mudanças no dia a dia, na velocidade, nas escolhas, nas aparências e na maneira de agir da humanidade. Declinar todas as manifestações dessa hecatombe tecnológica, diga-se, seria um exercício bastante cansativo. Seria preciso mencionar desde a facilidade com que um cidadão que aprecia interagir sensual e sexualmente com homens peludos e acima do peso, os chamados ursinhos, passou a encontrar os objetos de seu desejo antes perdidos na selva cerrada de preconceitos que os mantinha escondidos (ver reportagem "No fim do arco-íris", Trip Nº 147, http://bit.ly/No-fim-do-arco-íris), até o significativo impacto da chegada da telefonia móvel e dos canais de televisão por satélite nas cerimônias de meditação, no horário tradicional e quase sagrado das refeições das famílias e nos subsequentes momentos de intimidade entre os casais no longínquo e isolado Butão.

Sobre isso, aliás, nunca pairaram dúvidas. A tecnologia é um implacável agente transformador de formas, de hábitos e de ritmos, que ao mesmo tempo e de maneira fascinante, facilita acessos e cria desafios novos a cada segundo. E exatamente daí derivou a pergunta que provocou nosso trabalho: será que a vida afetiva e sexual das pessoas sofreu de fato alterações importantes em função do gigantesco swell tecnológico que quebra sobre nossas costas?

Depois de cerca de dois meses debruçados sobre o tema, a conclusão parece indicar que, em que pese as enormes e definitivas mudanças no que toca a velocidades, quantidades e variações de estímulos, alterações visuais e estéticas, do aparecimento de ferramentas das mais encantadoras e surpreendentes capazes de desvendar enigmas e resolver impasses de todos os tipos, aquilo que é realmente fundamental mudou muito pouco. Talvez nada. 

Sim, a cada invenção disruptiva, infinitos novos hábitos e possibilidades afloram. Mas ao que parece, importará pouco se enquadrarmos o recorte do mundo pós Graham Bell ou aquele mais recente, que se curvou aos pés de Steve Jobs. No fim e ao cabo, ainda que possamos estar em contato com maiores velocidades, quantidades e matizes de experiências, continuamos absolutamente prostrados diante de oceanos de dúvidas, angústias, travas, preconceitos e medos. Claro, felizmente, também seguimos navegando encantados e profundamente atraídos pelas maravilhas sensoriais e amorosas que o contato com o outro e com nossos próprios mistérios e potencialidades tem a oferecer.

Mas não se engane, o mesmo mundo que ao toque de uma tela é capaz de te conectar a milhares de pessoas dispostas a uma interação sensual imediata de acordo com suas preferências, pode na real estar interagindo sensivelmente menos, amorosamente falando, e definitivamente ainda teme tabus ancestrais como, para ficar num exemplo simples, o próprio corpo humano. Uma anatomia que, em pleno ano cristão de 2015, ainda assusta , provoca, ofende, encanta e atrai, com intensidade idêntica a que se via no tempo dos nossos tataravós. Curioso, e talvez alentador, notar que em meio a tanta tecnologia, continuamos a ser as mesmas criaturas, tão simplórias quanto interessantes, de sempre.


Tecnologia: em quem ela nos transformou?

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Caro Paulo,

Você sabe que sou colecionador da revista Wired, para mim, o veículo que melhor entendeu e explicou o impacto da tecnologia digital em nossa vida. Tenho desde o número zero com autógrafo do Nicholas Negroponte que, na época, além de chefe do Media Lab do MIT era o colunista da última página da revista. Que saudades das surpresas e dos insights da coluna do mestre!

Em 2013, na edição comemorativa de 20 anos, o Paulo Lima da Wired, também conhecido como Kevin Kelly, desenhou uma linda página dupla com uma frase que dizia o que estava acontecendo no ambiente das empresas de internet: “Nós estamos construindo a coisa mais importante no mundo hoje – talvez a coisa mais importante de todos os tempos. Ela nos conecta. Ela nos amplia. Ela aprofunda quem somos”.
A questão é de identidade, ponto. Não é apenas como fazemos sexo, como trabalhamos, comemos ou viajamos, mas no que nos tornamos.

Tenho encontrado muita gente perplexa diante dos novos comportamentos na sociedade, e as pessoas estão sofrendo porque não entendem o que está acontecendo. Minha resposta é sempre a mesma: estamos mudando a ideia que fazemos de nós mesmos e, para expressar essa nova consciência, usamos uma linguagem diferente, por isso muitos não entendem e vão ficando à margem da história. Sexo, política, trabalho, família, segurança.

Tudo já está funcionando de forma diferente. Aliás, continuaremos diferentes mesmo que essa tecnologia não exista mais, porque seu impacto já terá acontecido no plano da nossa consciência. É como sexo, viagem, droga e poder; essas experiências são muito ricas para nos ensinar quem somos e, talvez por isso mesmo, têm tanto potencial de nos afastar da vida como ela é e nos transformar em viciados zumbis alienados.

Zumbis à parte, quero falar de sucessos e fracassos provocados pelo impacto que a tecnologia está promovendo na forma como pensamos e atuamos. Para ilustrar o argumento, reproduzo um trecho da genial entrevista do jurista Joaquim Falcão para as “Páginas amarelas” da Veja de 9 de setembro: “Nos últimos anos, o Ministério Público e o Judiciário se adaptaram muito mais à complexidade técnica do novo cenário do que alguns dos grandes escritórios de advocacia.

Trabalham com big data, usam a tecnologia em grau máximo atrás da informação. Sei que acusados do Lava Jato foram pegos de surpresa por este tipo de sofisticação na investigação. Os novos juízes, procuradores e promotores não se atêm tanto ao debate de teses jurídicas abstratas. Seu olhar está voltado para o mérito das questões, para o mundo real”. Em outras palavras, o sucesso no mundo atual não virá de teorias abstratas, processos e instituições manipuladas, mas de fatos concretos bem informados, compartilhados e acessados com velocidade, via uma tecnologia que nos conecta, nos amplia e aprofunda quem somos.

ABAIXO OS CAFETÕES

Esse Joaquim (viva os Joaquins, a começar pelo meu neto!) continua a análise com autoridade de quem conhece por dentro: “Eles (os advogados) ainda se ancoram no campo das abstrações, e não no dos fatos. Buscam a nulidade dos processos, esquecendo o mérito, o que é certo e o que é errado”. Aí está o nexo entre essa tecnologia e uma mentalidade mais prática, simples, ágil, consequente e muito melhor, mais segura, mais confiável e eficiente!

Não sou adepto do digital pelo digital, mas pelo que ele proporciona, e é disso que a gente deve correr atrás. É que nem sexo: com tecnologia ou sem tecnologia, não importa como nem onde, o que a gente busca é o prazer, certo? O resto é teoria abstrata que nos afasta do fato.
Em tempo: a proibição do Uber em São Paulo está na contramão da história. Abaixo os cafetões de alvará!

Abraço do amigo Ricardo

*Ricardo Guimarães, 66, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é ricardoguimaraes@thymus.com.br e seu Twitter é @ricardo_thymus 

Sexo por celular na prisão

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Comprei de contrabando um aparelho dentro da prisão. Eu me escondia atrás das cortinas do banheiro pra falar com ela, sussurrávamos a madrugada inteira. A paixão então explodiu em labaredas. 
Estava na Penitenciária do Estado quando recebi a carta. Ao ver a letra, algo dentro se comprimiu. Vinte e dois anos depois, e ela estava ali. A ansiedade tomou conta; era preciso responder imediatamente. Fiquei esperando a resposta na ponta dos pés, como eu havia amado aquela mulher!

Na época era casada e jamais permitiu qualquer avanço. Acho que a admiração por sua honestidade fazia parte daquele sentimento. Combati meus valores podres e quis ser correto. Digno. Quando ficou grávida do marido, foi cuidar da família. Eu estava apaixonado e dependente; sofri sua ausência, mas compreendi e respeitei. Não havia futuro para mim, minhas penas somavam mais de cem anos.

Ela não se fez por esperar: a carta trouxe sua trajetória naqueles 22 anos. Estava separada há tempos. Sua vida fora de realizações, havia se tornado uma mulher de enorme conceito na comunidade que habitava. Eu prosseguira na luta que ela me estimulara, já cumprira 29 anos de minhas penas e me tornara escritor.

Um ator da Globo vivera problemas com seu pai; sua tia lhe deu um livro em que o personagem tivera desastrosos desencontros com o pai. Ele leu, gostou e passou para a namorada. Esta, ao ler, lembrou que sua mãe lhe contara que, antes de ela nascer, havia conhecido um rapaz que estava preso em São Paulo. A história do livro contava algo parecido. Havia muita coincidência. Aquele era meu primeiro livro, Memórias de um sobrevivente. Ela, a mãe da namorada do ator da Globo, era um dos personagens principais do livro. Ela se identificou e me reencontrou pela editora.

Logo era como se aqueles 22 anos não houvessem existido. Tudo voltava com potência voraz. De repente nós queríamos, e agora ela podia. Comprei um celular de contrabando (os celulares eram novidade na prisão) e então a paixão explodiu em labaredas. À noite, atrás da cortina do banheiro, passava horas namorando. Ela contava seus sonhos eróticos e eu extravasava quase 30 anos de desespero sexual. Nós sussurrávamos (o guarda rondante não podia escutar) a madrugada inteira. Às vezes fechava os olhos e estava em sua cama possuindo-a carinhosamente. Jamais foi grosseiro, embora às vezes fosse selvagem. As palavras eram pura magia que nos transportavam para imagens frenéticas. Eu absorvia o que ela me dava, tremendo; ansioso por cada palavra, qual fossem os dedos de minha mão. Era intenso demais; meus olhos mantinham minha boca em seus ouvidos. De manhã, quando o sol se abria, eu desmaiava na cama, saciado.

RECOMEÇO

Momentos de imensa liberdade, embora estivesse ali, preso. Fui transferido para outra prisão onde não havia chances de ter um celular, essa tecnologia que tanto prazer nos possibilitou. Ela continuou fazendo por mim. Fiquei mais dois anos preso e jamais me faltou nada. Continuei escrevendo esta coluna, compondo livros, poesias e escrevendo cartas todos os dias para ela.

De repente, eu estava livre, depois de 31 anos e dez meses preso, e na rodoviária de São Paulo. O pessoal da Trip me levou à casa dela. Quando chegamos, ela nos aguardava na frente da casa. Fazia 25 anos que não nos víamos. Foi emocionante demais; eu estremecia a cada palavra dela. Seus olhos me focavam com carinho e certa compaixão. Eu absorvia tudo como uma esponja, meus olhos eram só para ela. Estava travado, não conseguia conversar. Não dava para acreditar: tudo parecia um sonho e eu temia acordar de repente.

Sete horas antes eu estava preso, ansioso por receber uma carta dela. Agora ela estava ali na minha frente, com as mãos nas minhas, os lábios nos meus e sua voz entrando pelos meus ouvidos. Só havia um modo de destravar. Pedi seu celular e liguei para o telefone dela. Ela me olhou, sentiu mais que entendeu e foi atender. E então consegui falar, pelo celular, de minha alegria, de meu prazer de estar em sua casa e de todo amor que eu lhe devotava. Desliguei o celular, bendizendo sua utilidade e fui abraçá-la.

Assim recomeçava minha vida.

*Luiz Alberto Mendes, 63, é autor de Memórias de um sobrevivente (Companhia das Letras). Seu e-mail é lmendesjunior@gmail.com 

Como mandar nudes com segurança

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Um dos memes mais curiosos da internet é o “Manda nudes”. O significado é autoexplicativo. Você pede para alguém do outro lado da conexão enviar uma foto pelada (ou “sensualizada”) para você. A prática, amplamente disseminada em tempos de amores digitais, é também um bom tema para pensar em outros assuntos importantes. Afinal, quem “manda nudes” fica sempre com a pulga atrás da orelha sobre onde aquela foto descontraída pode ir parar. A internet está cheia de comédias e tragédias envolvendo o envio das tentadoras “nudes”.

Pensando nisso, a organização Coding Rights, que trabalha com a questão da privacidade, fez recentemente um interessante guia para quem quer mandar seus nudes com mais segurança. Segue então um resumo das principais dicas dele.

O primeiro passo é anonimizar o envio. Até para evitar que a imagem possa ser atribuída especificamente a você. Aplicativos como o Obscuracam servem para “pixelizar” os detalhes da foto (como o rosto) que podem levar à identificação do(a) pelado(a). Além disso, é preciso saber que praticamente todas as fotos tiradas com smartphones carregam com elas automaticamente dados sensíveis, como o lugar onde a foto foi tirada. Então é fundamental usar aplicativos como o Photo Exif Editor para remover esses dados antes de enviar.

Vale evitar também usar SMS de celular ou aplicativos e sites mais comuns para enviar os nudes, como o WhatsApp ou o Facebook. O ideal é apostar em apps como o Confide, que criptografam a foto no caminho, impedindo que bisbilhoteiros tenham acesso a ela enquanto segue aberta pela rede. Além disso, mesmo com aplicativos mais seguros, um risco que vai existir com os nudes é a pessoa tirar uma foto da tela do celular onde ele aparece para compartilhar.

No caso do Confide, ele evita que isso aconteça de duas formas. Primeiro, ele manda uma mensagem avisando se alguém traiu sua confiança e tirou uma foto automática da tela com seu nude. A outra é que ele só revela a foto parcialmente, conforme o feliz receptor do nude vai deslizando seu dedo pela tela. Ou seja, isso dá bem mais trabalho para quem quiser trapacear.

#FICAADICA

Por fim, vale lembrar que as fotos tiradas em um celular ficam armazenadas nele mesmo se você deletar o arquivo. Um hacker pode facilmente recuperá-las se tiver acesso ao seu smartphone. Isso é um perigo para os distraídos. Se perder o celular, alguém esperto tecnologicamente e mal-intencionado pode vasculhar tudo que há nele, mesmo que tenha sido deletado. Com isso, usar aplicativos com o Ccleaner é obrigatório para quem quiser ter certeza de que apagou todos os vestígios de arquivos que estão no celular.

E se tudo der errado e o nude for parar na internet? Neste caso, saiba que o Marco Civil da Internet possui um artigo destinado a punir a chamada “pornografia de vingança”, ou seja, alguém que, para se vingar do(a) ex, posta os nudes na internet. O Marco Civil diz que sites que postarem esse tipo de conteúdo são obrigados a remover tudo imediatamente, socorrendo a vítima.

Dito tudo isso, #ficaadica para quem gosta de enviar nudes pela internet. Está aí uma bela razão para saber um pouco mais sobre como a rede funciona e para aprender a proteger melhor sua privacidade.

 *Ronaldo Lemos, 39, é diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org) e apresenta o programa Navegador na Globonews. Seu Twitter é @lemos_ronaldo 

Frugivorismo: adeptos da dieta falam sobre benefícios da comida crua

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Kristina/Fullyraw

A americana Kristina exibe algumas de suas refeições regulares em seu site, FullyRaw

Ostentação? A frugívora Kristina exibe algumas de suas refeições regulares em seu site, FullyRaw

O frugivorismo é uma dieta que se baseia no consumo de frutas in natura (ou minimamente processadas) e livres de qualquer cozimento. Como só de fruta ninguém vive (ao menos não saudavelmente), os frugívoros complementam a alimentação com hortaliças (alface, couve, brócolis e família) e oleaginosas (como as castanhas), tudo cru e nada de origem animal. Ou seja: carnes, ovos, mel, leites e derivados ficam de fora. 

Segundo os adeptos do estilo de vida, a cocção dos alimentos diminui a quantidade de vitaminas e nutrientes disponíveis. E, no caso de algumas frituras, o excesso de calor pode gerar substâncias cancerígenas, como a acrilamida. Entre os nutricionistas, a dieta é polêmica, mas pode ser saudável. "Qualquer tentativa de consumir alimentos frescos e naturais trará inúmeros benefícios à saúde", afirma Aline Camargo Vieira. "Com o devido acompanhamento profissional, o frugivorismo é totalmente viável", recomenda a nutricionista. 

Mas na prática, frugívoro come o quê? Na foto acima, Kristina exibe algumas de suas refeições: melancia (e não é pouca, não), bacias de frutas orgânicas, um jarro bem servido de suco e saladas das mais diversas. Em seu site, FullyRaw, a americana ensina receitas de pratos feitos sem cozimento e à base de frutas, como esse simpático sorvete de banana com morangos

Eduardo Corassa exibe torta frugívora

Torta vegana de morangos feita pelo culinarista Eduardo Corassa

O carioca Eduardo Corassa, frugívoro há 9 anos, conta que come frutas - muitas, diga-se - durante o dia e à noite opta por saladas bem servidas. "Antes de ir para a faculdade, como 22 bananas, às vezes meia melancia, varia muito. À noite, faço uma salada caprichada com alface, brócolis, abobrinha e outras verduras. Também consumo castanhas e algumas frutas desidratadas", conta à Trip. Em seu site, Saúde Frugal, também ensina receitas frugívoras.

Desde que adotou a dieta, Eduardo se tornou uma referência no Brasil e viaja pelo país para divulgar o estilo de vida saudável, livre de alimentos cozidos e de origem animal. Já são 5 livros publicados, entre eles “Saúde Frugal - O guia ao Crudivorismo e à Higiene Natural” e “Revolução Vegana”, onde defende a causa animal e também explica porque abandonar o fogão.

Antes da mudança de vida, era chegado em fast food, não fazia exercícios e, por conta disso, acumulava problemas de saúde. “Eu não me sentia bem e percebi que meus hábitos estavam colaborando para isso. Como a medicina tradicional não trouxe resultados, resolvi procurar alternativas e fui muito bem sucedido”, conta.

Arquivo/Eduardo Corassa

Rondelli de abobrinha com queijo ralado

Rondelli de abobrinha crua com queijo castanha ralada, feito por Eduardo

Ao contrário do que a família e amigos pensavam, o carioca não definhou e nem morreu. Vai muito bem, inclusive. “Eu jamais fico doente. Nunca imaginei ser possível me sentir tão bem. Estou dentro do peso, me sinto mais disposto e tenho excelente desempenho físico”, afirma.

A adoção de uma dieta diferenciada trouxe benefícios, mas também dificuldades. Há 9 anos, as informações eram limitadas e lidar com o estranhamento de outras pessoas foi inevitável. “Hoje em dia, com tantos resultados benéficos que se refletem no meu físico e no meu comportamento, passaram a me respeitar e se inspirar em mim”, explica.

Corassa não é o único. Na casa de Anna Krassuski, adepta do frugivorismo há 3 anos, não entra nada cozido. Ficar mais saudável foi a maior motivação dela e do marido, Raini Pachak. “Estava cansado se ser viciado em sal e gordura. Era hora de mudar”, conta ele, também frugívoro. Desde então, os benefícios foram inúmeros, mas Anna destaca que a maior conquista foi o bom humor. “Eu sou uma pessoa mais calma. Minha clareza mental e criatividade aumentaram sem precedentes”, diz.

O casal também precisou lidar com poucas informações disponíveis na época e com a dificuldade de aceitação. “Meus amigos acharam que eu havia sofrido uma lavagem cerebral”, brinca a curitibana. Assim como Eduardo Corassa, com o passar do tempo Anna e Raini se adaptaram com tranquilidade à nova vida. 

Ingrid Richter

Jantar crudívoro preparado na casa de Anna e Raini

Jantar frugívoro preparado na casa de Anna e Raini

Apesar de frugívoros, ambos saem com amigos e convivem com a família normalmente. Raini diz que quando precisa sair, leva umas frutinhas para a viagem ou já vai com o estômago preparado. Eduardo afirma não se importa tanto com o que irá comer. Quando necessário, traz consigo algumas castanhas ou pede algo do menu compatível com a dieta. “Na nossa sociedade, a comida não é algo secundário em confraternizações, mas para mim é. Saio para encontrar pessoas queridas, não para comer”, afirma. 

Para Eduardo, Anna e Raini, o segredo de uma dieta frugívora bem sucedida é informação e planejamento, já que os hábitos diferenciados requerem maior cuidado com a alimentação. De acordo com a nutricionista Aline Camargo Vieira, o acompanhamento profissional é imprescindível, pois nem sempre não ter sintomas significa estar completamente saudável. 

Segundo ela, apesar dos estudos mostrarem que a dieta crua e vegana é saudável, há quem não reaja bem à alta ingestão de fibras ou sinta necessidade de comer alimentos cozidos para obter conforto emocional, por exemplo. “Não existe uma dieta perfeita para todos, mas sim uma dieta que seja boa para você”, diz. Já o nutricionista George Guimarães recomenda a suplementação - embora a maioria dos frugívoros dispensem - e a inclusão das oleaginosas, ricas em proteínas e calorias, para praticar a dieta sem prejuízos para a saúde. 

Miá Mello, Eryk Rocha e muito samba

Mulheres lutam na Síria

o tamanho do pinto importa mesmo?

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 Imagem do livro: The little book of the big penis

Imagem do livro: The little book of the big penis

Houve uma vez um verão em que um aplicativo para celulares, o Lulu (que saiu do mercado brasileiro no ano passado, em meio a muita polêmica), deixou homens apavorados: usando dados extraídos do Facebook, a ferramenta permitia que mulheres avaliassem os homens que as cercavam, nos mais variados aspectos – dos dotes culinários ao gosto musical. Um tema em particular causava inegável desconforto entre os avaliados: os detalhes da anatomia. Mais precisamente, o tamanho do pênis. #NãoFazNemCosca foi uma das hashtags que se espalharam pela rede para definir paus que seriam pequenos demais para o gosto das freguesas.

A descrição levou o cronista Xico Sá a escrever um texto bem humorado em que sugeria aos colegas que relaxassem e tentassem se divertir com a brincadeira. "Meu amigo, o primeiro insatisfeito nessa parada é você mesmo", lembrava ele, que completava com outra verdade indiscutível: "Ninguém é perfeito e a vida é assim". O fato é que uma infinidade de desabafos de insatisfeitos com o próprio pênis povoa a internet, ao lado de anúncios com promessas como "Enlarge your penis" ou "Gain 2 inches!". O espaço virtual é só um reflexo do que desde sempre é falado em bares, consultórios e salões de beleza pelo mundo: o tamanho do "documento".

A complicação começa em definir que metragem separa um membro pequeno de todo o resto. Nos fóruns virtuais, as respostas para pequeno acolhem pintos que vão de 5 a 14 centímetros – um cenário tão abrangente quanto impreciso. Há homens infelizes (sempre on-line, sob a proteção do anonimato) com pintos que têm entre 8 e 12 centímetros. E há ainda m

referentes à largura. A medicina separa pintos pequenos da micropenia, quando realmente há um problema, no número 7. "Se em comprimento, e ereto, o pênis for menor que 7 centímetros é considerado um micropênis, e requer investigação médica. Qualquer coisa maior que isso pode ser perfeitamente normal. Basta que o dono do órgão tenha uma relação saudável com ele", conta Antônio de Moraes Júnior, urologista e coordenador do Departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

"Pequeno mesmo é o pinto do cara que não quer saber do prazer do parceiro"

Deixamos a pergunta sobre quantos centímetros caracterizam um pau pequeno em nossas redes sociais e as respostas não ficaram apenas nas medidas. "Nem sempre uma relação de amor tem um pinto. E quando se gosta verdadeiramente de alguém a troca de carinho e respeito é muito mais importante do que o tamanho do pau", foi uma das mensagens. "Pinto pequeno é sempre o do ex", brincava outra. "Pequeno mesmo é do cara que não quer saber do prazer do parceiro" apostava outra, lembrando que a questão não se restringe apenas a relações entre homens e mulheres. Em números exatos, os depoimentos dizem que menos de 10 centímetros configuram pinto pequeno.

No consultório do doutor Antônio, em Goiânia, as queixas quanto ao tamanho são frequentes e, quase sempre, ele as considera infundadas. "Recebo pacientes semanalmente reclamando disso. Muitos estão dispostos a intervenções cirúrgicas." O urologista se refere à cirurgia de aumento peniano, que pode aumentar em até 5 centímetros o comprimento do órgão, mas que é exclusivamente recomendada para casos de micropenia (aqueles com menos de 7 centímetros), e olhe lá. Mesmo nesses casos, o procedimento deve ser criteriosamente analisado, pois oferece alto risco de sequelas. "O paciente pode acabar com o pênis mutilado e, muitas vezes, passa a ter problemas de ereção e alteração no canal urinário."

A julgar por um vídeo do YouTube chamado 1st Anual SmallPenis Contest, (1º Concurso Anual de Pênis Pequenos), de 2008, donos de micropênis parecem, ao menos ali, levar a vida com mais leveza do que donos de pintos que estão fora dessa linha de corte. Entre os candidatos, destemidos portadores de paus inacreditavelmente pequenos são alvo de piadas dos jurados. "Isso não é um pênis, é uma vagina", alguém diz para um dos concorrentes. Todos gargalham, inclusive o dono da genitália em questão.

 Imagen do livro Superbad: The Drawings de David Goldberg

Imagen do livro Superbad: The Drawings de David Goldberg

Don’t wanna a short dick man

A câmera fecha em um casal em um jogo de basquete na Califórnia, Estados Unidos. Lá, é tradição durante os intervalos flagrar beijos, declarações de amor e – assim como o feito do comediante Patrick Moote – propostas de casamento. No telão todos observam Patrick se ajoelhar e tirar a aliança do bolso. Num ato digno de gargalhada nervosa e vergonha alheia, a então namorada sai correndo. Essa foi apenas a primeira humilhação sofrida por Patrick. Dias depois, a segunda vem com a eternização de seu fora na internet, quando 10 milhões de pessoas clicaram para assistir à cena. Mas o pior ainda estava por vir. Inconformado com a negativa, ele vai atrás da ex pra ter algumas justificativas. Dentre elas vem a bomba: "O seu pinto é pequeno demais pra mim".

Começava ali o documentário Unhung Hero, que apresenta a saga de Patrick atrás de respostas e soluções para um pau rejeitado. O norte-americano roda o mundo e testa tratamentos, exercícios e bebidas mágicas que possam lhe dar centímetros extras. De forma aberta e muitas vezes sem aviso prévio entrevista ex-namoradas e familiares. Fala também com ativistas, especialistas e atores de filme pornô. Com bom humor, entre o exorcismo de um pé na bunda público e o autodeboche, Patrick descobre que nada pode mudar a metragem de seu pênis, mas que dá pra ser feliz com seu pau diminuto, porém esperto. Durante o documentário ele arruma, inclusive, uma namorada nova.

"A mulherada dizia ‘tamanho não é documento’. Era politicamente correto abraçar a causa mesmo que ela não fosse tão ‘abraçável’. Mas nos grupos de WhatsApp os comentários eram outros"

De fato, não existem tratamentos recomendados pela medicina tradicional para os insatisfeitos com sua medida. A solução seria desencanar e gozar. Ou recorrer a um sex shop e às pequenas ajudas do mercado erótico, que vão das duvidosas bombas penianas a capas e até cosméticos. Produtos assim prometem um resultado "delicado e momentâneo", explica Paula Aguiar, presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme). Com a bomba a vácuo, o pênis ganharia mínimos centímetros; já a capa funciona como uma "nova roupa que dá corpo ao membro"; quanto aos cosméticos, Paula explica que causam uma sensação de tumescência.

Nesses mesmos sex shops a maioria dos vibradores realistas vai de 13 a 20 centímetros. Há consolos menores, com cerca de 10 centímetros de comprimento, "mas são mais procurados para uso anal", diz Paula. De acordo com as pesquisas da Abeme, os mais procurados entre brasileiras e brasileiros correspondem à média nacional, 15,7 centímetros, segundo estudo publicado em maio de 2014 na Inglaterra.

Não existem pesquisas oficiais sobre a relação entre o tamanho do pau e o prazer feminino. Mas rumores de insatisfação não faltam. O humorista Antonio Tabet é um dos atores do vídeo É pau é pedra, do canal Porta dos Fundos, em que dois amigos conversam em um banheiro sobre o tamanho do órgão. "2 centímetros de pau ou a cura do câncer?", "2 centímetros de pau ou ganhar na Mega-Sena?" A resposta é sempre "2 centímetros de pau". Sobre o assunto do vídeo, Tabet diz que no Brasil reclamar de tamanho de pinto é mais ou menos como reclamar da corrupção: "Quem o faz, muitas vezes, tenta um esquema para burlar um imposto ou furar uma fila. Com o pau é parecido. Houve um tempo em que a mulherada dizia ‘tamanho não é documento’. Era politicamente correto abraçar a causa mesmo que ela não fosse tão ‘abraçável’. Mas nos grupos de WhatsApp os comentários eram outros". Coincidência ou comprovação, o vídeo Does the size matter, do canal Cut Vídeo, mostra mulheres americanas respondendo se o tamanho importa e a maioria diz não. Uma delas crava: "O tamanho importa pra mim se importar pra você".

A puta aposentada e escritora Lola Benvenutti admite que "sim, mulheres comentam" e que, particularmente, para ela existe um "limite para a pequenez". Até pode ser pequeno, mas não nanico. "Já atendi caras em que era impossível colocar camisinha. Tipo dedo mindinho. E foi frustrante. Talvez porque o estímulo visual faça diferença. Você vê um cara de pau minúsculo e parece que desfaz a imagem de homem." E, segundo a psicanalista Maria Lúcia Homem, em nossa sociedade falocentrista o pinto pequeno mexe mesmo na imagem de seu dono e acabamos sugestionados pelo imaginário poderoso que isso cria. No fundo, apenas mais um padrão, que, como qualquer outro, enquadra uns e exclui e fere os diferentes.

"Pensar que a carga erótica está no tamanho do pau é limitado. A sexualidade é muito mais complexa e deve ser gozada por mil signos"

Para a psicanalista os centímetros não devem ser mais poderosos que uma ideia. "O desejo está na cabeça". E uma penetração profunda não é regra para estimular ninguém. "Nas mulheres, por exemplo, o primeiro um terço da vagina corresponde à região de maior sensibilidade. Você não tem que chegar no colo do útero pra acionar prazer, e, se chega, machuca." Maria Lúcia garante que a solução para os pequenos e seus respectivos envolvidos é a desconstrução da lógica métrica e simplista que deposita o desejo em meras medidas. "Pensar que a carga erótica está no tamanho do pau é limitado. A sexualidade é muito mais complexa e deve ser gozada por mil signos. O tamanho do pau deixa de ser um problema se transgredimos a normatividade que sustenta o sexo."

Imagem do livro: The little book of the big penis

Imagem do livro: The little book of the big penis

 

PASSANDO A RÉGUA

Quanto, afinal, deve medir um pênis para ser considerado pequeno?

Isso parece algo impossível de responder objetivamente. Em 2012, numa entrevista concedida a Jô Soares na TV Globo, o médico mineiro Murilo Ranulfo Tavares Jr. diverte a plateia ao dividir a humanidade em três categorias: o padrão asiático, com 12,5 cm em média; o africano, com 16,5 cm e o europeu/americano, com 14,5 cm (medidos sempre durante a ereção, com uma régua - não fita métrica - e encostando-a no púbis). Legista e autor de Incisão sem corte, romance erótico inspirado em seus plantões nos hospitais de Belo Horizonte, ele afirma que os anos como professor de anatomia e médico legista o fizeram um especialista em corpo humano, sobretudo em pênis. Em entrevista à Trip, Ranulfo chama a atenção para estudos recentes, como o que a revista BJU International, especializada em urologia, publicou em 2014, revelando o tamanho médio do pau em diferentes nações. A República do Congo lidera a lista, com média de 18 cm. O Equador vem em segundo lugar, com média de 17,5 cm. Bélgica e França são os próximos, com 16,2 e 16 cm, respectivamente. Na mesma pesquisa, a média do brasileiro é de 15,7 cm. Nas últimas posições estão China (10,9 cm), Índia, (10,1 cm), e Coreia (9,3 cm).
 


Arnaldo Antunes, Tati Bernardi e relacionamento virtual

Tati Bernardi fala sobre sexo e feminismo

Relacionamento virtual na vida das pessoas

O melhor do Trip Transformadores 2015

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Samuel Esteves

Dona Onete fez a plateia do Trip Transformadores tremer

Dona Onete fez a plateia do Trip Transformadores tremer ao som do carimbó

“Ninguém participa de uma noite como esta sem se transformar também”, dizia Bruna Lombardi emocionada, antes de apresentar um dos homenageados da nona edição do Prêmio Trip Transformadores. A emoção é mais do que compreensível. Afinal, nesta quarta-feira (11 de novembro) o Auditório Ibirapuera, em São Paulo, estava lotado para celebrar pessoas e projetos genuinamente comprometidos com o outro.

Médicos, artistas, atletas, agricultores, aviadores, líderes espirituais. Cada um dos homenageados representa uma forma mais altruísta e contemporânea de enxergar o mundo ao nosso redor. O que realmente faz a diferença é a certeza de que as ideias e projetos destas pessoas causam um grande impacto nas comunidades em que participam e, consequentemente, na sociedade como um todo.

"Há nove anos, este prêmio valoriza a ideia da interdepência", declarou Paulo Lima, editor da Trip na abertura do evento. Esta idéia também estava presente na cenografia, concebida por Marcelo Dantas, uma cortina toda confeccionada a partir de um emaranhado de fios de cobre, fazendo referência à conectividade.

Samuel Esteves

Arnaldo Antunes

Arnaldo Antunes apresentou música de seu disco mais recente, Põe fé que já é

Para celebrar a noite, subiram ao palco músicos representantes da diversidade musical do nosso país e da sonoridade típica de diferentes regiões: Tiganá Santana, um poeta baiano que carrega consigo as raízes africanas, Dona Onete, com seu carimbó paraense e timbres amazônicos, Renato Teixeira e sua alma caipira e, em contraste, o ultra urbano Arnaldo Antunes.

Com vocês, as verdadeiras estrelas desta festa

O engenheiro e coronel da Aeronáutica, Ozires Silva foi um dos fundadores da Embraer, responsável pelo avião Bandeirante, o primeiro fabricado no Brasil. Já foi presidente da Petrobrás e da Varig e ministro de Infraestrutura. Mas hoje, aos 84 anos, Dr. Ozires recebe nossa homenagem por seus projetos na área da educação.

Samuel Esteves

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Dr. Ozires: "Somente através da educação vamos construir um Brasil capaz de exportar tecnologias"


Katiele Fischer ficou conhecida por sua luta para legalizar a importação do canabidiol, um óleo derivado da maconha capaz de conter as crises epiléticas da filha, Anny, portadora da síndrome CDKL5, um problema genético raro. Através de sua luta, retratada no documentário Ilegal, conseguiu tirar o CBD da lista das substâncias proibidas da Anvisa.

Samuel Esteves

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Ana Paula Padrão e Ilona Szabó entregam o prêmio a Katiele: "Hoje é um dia duplamente especial, primeiro por esse prêmio, e também porque hoje completa 2 anos que dei a primeira dose de CBD para minha filha"

 

Ernst Gotsch trocou o nordeste da Suiça pelo nordeste brasileiro. Se estabeleceu em uma fazenda na zona cacaueira do sul da Bahia e, desde então, recuperou toda uma área degradada. Suas técnicas de plantio permitem a regeneração natural da mata nativa.

Samuel Esteves

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"O que faço é observar os mecanismos de troca da natureza. Notei como cada ser vivo é necessário, simplesmente, não há pragas", disse o agricultor ao receber o prêmio


OsGemeos são, sem dúvida, os maiores nomes do grafite brasileiro. Seus traços, texturas, e personagens amarelos está há décadas por toda cidade de São Paulo, transformando a paisagem de concreto em um mundo onírico. 

Samuel Esteves

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Os Gêmeos: "É muito bom estar aqui hoje. Me lembro no começo dos anos 90 quando fui à Trip tentar um trabalho como ilustrador"

 

A história do Favela Orgânica começou em 2011, quando Regina Tchelly decidiu reagir a tanto alimento desperdiçado mesmo em uma área tão carente quanto as comunidades cariocas. Mais do que encher o prato de quem precisa com comida de qualidade, Regina está transformando a relação do consumidor com seus alimentos.

Samuel Esteves

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"A gente tem primeiro é se amar, se aceitar, daí a gente tem poder pra transformar", disse a sorridente Regina

 

O estudante de engenharia pernambucano Caio Guimarães foi selecionado pelo Programa Ciências sem Fronteiras para cursar dois semestres em Nova Iorque. Lá, desenvolveu uma “lanterna medicinal” portátil, capaz de erradicar infecções provocadas por bactérias resistentes a antibióticos.

Samuel Esteves

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Caio Guimarães "Devo ter enviado mais de 2 mil email a pesquisadores, até que um resolveu levar a sério minha pesquisa."

 

Não é a toa que a geógrafa Stela Goldenstein é também chamada de “senhora das águas”.  A ambientalista é diretora executiva da Fundação Águas Claras do Rio Pinheiros, entidade que monitora e busca recuperar o rio e seus afluentes. 

Samuel Esteves

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"Só vamos progredir enquanto sociedade quando estivermos alinhados em nossos objetivos" - Stela

 

Thomaz Srougi é fundador do Dr. Consulta, uma rede de clínicas particulares voltadas para as classes C e D, sem planos de saúde. O valor da consulta é, no máximo, 80 reais. Mas, apesar do baixo custo, o atendimento é feito por profissionais de alto nível.

Samuel Esteves

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"O que fazemos não é filantropia. Através do lucro ganhamos escala para enfrentar um grande problema social" - Dr. Consulta ao lado de Luciano Huck, de quem recebeu o prêmio

 

Lama Michel foi reconhecido pelo Lama Gangchen Rinpoche como a reencarnação de um mestre tibetano. Começou na vida monástica aos 12 anos, na Índia, onde ficou por 11 anos para receber a formação tradicional budista. Presidente da Fundação Lama Gangchen para a Cultura de Paz, Lama divide seu tempo entre sua casa na Itália e suas viagens pelo mundo ministrando palestras sobre Budismo e espiritualidade.

Samuel Esteves

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"Tudo o que fazemos depende do nosso estado interior", Lama Michel

 

Ex-número um do mundo e melhor tenista da história do esporte no país, Gustavo Kuerten  dedica parte de seu tempo ao Instituto Guga Kuerten com de programas que envolvem esporte, educação, entre outras atividades.

Samuel Esteves

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Guga emocionou a plateia: "Eu jamais poderia imaginar que uma raquete me levaria tão longe"

Pobre escravo rico

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Pedro Inoue

 

“Quando você compra algo, não paga com dinheiro, paga com o tempo de sua vida que teve que gastar para ter esse dinheiro”, afirma Pepe Mujica, o ex-presidente uruguaio. E o que é o tempo para nós? Tempo é algo que, se gastamos, não conseguimos repor. É nele que desenvolvemos nossa vida, ou seja: tempo é vida que se esvai. Então, gastamos nossa vida para consumir? Qual é o motivo da vida? Essa pergunta está sempre presente em nossa mente.

Será que vivemos para consumir, descartar, como a sociedade moderna nos pressiona? Seremos peças de engrenagem que, ao comprar e descartar, coloca a máquina social em movimento para que funcione em moto-contínuo? 

Temos uma sociedade tão rica como nunca tivemos, mas, ao mesmo tempo, sem nada para compartilhar. Vivemos com pressa, acelerados, o mercado nos pressiona e de repente eis que estamos ofegantes, já que não temos tempo nem para respirar. Gastamos tempo (vida) para produzir e consumir; carecemos de inúmeras coisas para dar sentido às nossas vidas e ficamos presos a elas. A casa superequipada, o Playstation das crianças, as roupas das grifes que fazem sucesso. Ou então temos o carrão importado com design moderno, e gastamos morando de aluguel em casas chiques para aparentar riqueza. Vivemos além de nossa capacidade financeira, a ostentar, e estamos desesperados atrás de empréstimos para financiar esses luxos. O banco nos consome, toma nossas vidas a longos sorvos.

O ideal da modernidade é que sejamos autossuficientes, emancipados, independentes e que não dependamos de ninguém. E tudo isso para quê? Sem os outros, independentes e autossuficientes somos mais fortes, mais felizes? Duvido. Nos prometem felicidade, mas é uma felicidade rasa, ligada à consumolatria. Em troca, nos tornam apenas capturáveis, domináveis ao marketing e às mídias todas, prontos para produzir e consumir. Quando a felicidade, sabemos, tem a ver com alegria, satisfação de viver, sexualidade, saúde, amizade, fraternidade, amor... 

CONSUMIR É COCAÍNA

Felicidade não depende de nosso cartão de crédito. Nada acontece de bom se não aprendermos a gastar nossas vidas de forma melhor do que a que nos propõe a sociedade de consumo. O homem é um ser em busca, que segue sua história única de procura contínua e insaciável. Isso tudo nos cansará, nos tornará deprimidos, neuróticos e ansiosos (essa doença do século 21). É de nossa natureza usar nosso tempo para construir, compartilhar e fazer o que é essencial para que a vida seja mais satisfatória. Necessitamos fazer nossa parte para que o presente seja melhor que o passado e o futuro, melhor que o presente.

Consumir é o mesmo que colocar heroína nas veias ou cocaína no nariz. É um outro tipo de fuga do cansaço de protagonizar socialmente o que não somos pessoalmente. O trabalho que nos rouba a vida enfada, os cônjuges, as casas, os afazeres todos nos esgotam – então consumimos compulsivamente. Vendemos nossas vidas ao menor preço. Mas nada, nada mesmo, nos libertará do tédio, da náusea do que somos seduzidos a viver. A vontade, de fato, é de
nos tornarmos outras pessoas, fazer novas dietas que nos emagreçam, operações plásticas que nos rejuvenesçam e modificar nosso ambiente. Isso pode ser divertido até que a insatisfação e a ansiedade nos levem novamente ao desespero e à depressão. Na verdade, ao caminharmos em movimento de fuga, nos tornamos perdedores autorreconhecidos.

Parece que a felicidade está em produzir o efêmero para que haja rápido descarte e a criação de necessidades para novo consumo. Mas a milenar experiência humana nos ensina que ou somos felizes com pouco, ou não somos felizes de forma alguma. José Alberto Mujica diria que: “Ao final és um pobre escravo que já não tem mais tempo de viver”.

 

Luiz Alberto Mendes *, 63, é autor de Memórias de um sobrevivente (Companhia das Letras)

Cozinha confidencial

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Autumn Sonnchsen

 

Eu sou uma mulher que cozinha bastante. Gosto de ir a restaurantes em Paris e tal, mas nunca vou negar um prato de arroz e feijão no boteco da esquina. A maioria do tempo, no entanto, prefiro comer a minha comida mesmo. 

Se eu gosto de você, vou te chamar pra almoçar na minha casa. Se eu quiser que você tire a roupa para mim, vou te chamar pra almoçar na minha casa. Se eu preciso que você me empreste a sua furadeira, vou te chamar pra almoçar na minha casa. Gosto de ir à feira, tenho uma coleção de facas maravilhosas e, no meu tempo livre, geralmente fico lendo livros de cozinha. Tudo isso acaba significando que, fora a minha mãe, ninguém cozinha para mim. Nunca. 

Autumn Sonnchsen

 

Fui a Paris a trabalho recentemente e fiquei uns dias a mais na casa de uma amiga nova, a Céline. Aprendi como é a coisa mais maravilhosa do universo ter uma mulher de calcinha (e ressaca) fritando uma panela de cogumelos ali, ao alcance das mãos. Tanta mulher de calcinha já passou pela minha casa e nenhuma delas nunca colocou um sobretudo e um chinelo para comprar uma garrafa de vinho gelado na loja da esquina. Nenhuma delas nunca voltou para me dar o vinho e o abridor enquanto começava a fazer um ovo mexido. A Céline é uma chef parisiense, mora praticamente aos pés da torre Eiffel, e tem a geladeira sempre cheia de cogumelos e figos e ervas de todos os tipos – e os ovos mexidos dela vêm sempre com trufas raladas por cima. 

Se você vai ter uma mulher cozinhando pelada para você pela primeira vez, é maravilhoso que seja uma mulher dessas num lugar desses. Eu estava tão espantada com a situação que só fiquei tirando fotos dos cogumelos e esqueci de fotografar a mulher bonita de calcinha. Depois de me fazer um lindo prato, ela me deixou com um beijo na testa para ir jogar badminton com a paquera dela. Talvez seja melhor assim. 

Mas agora fiquei mimada, não quero mais cozinhar, resolvi que estou velha e quero ser cuidada. Pode chegar na minha casa com uma sacola da feira, do supermercado ou até com um PF para viagem. Quero que alguém ande de calcinha para mim e me dê comida enquanto abro um vinho. Até lavo a louça. Vem.

 

Autumn Sonnichsen, 31, é fotógrafa. Seu site é www.autumnsonnichsen.com

O velho tupinambá

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Pedro Inoue

 

É bastante conhecida a conversa que o navegador francês Jean de Léry teve com um velho tupinambá, ali por 1500 e pouco, em uma praia que fica entre o Rio de Janeiro e o atual litoral norte paulista. O índio não compreendia por que os franceses passavam tantos perrengues para levar enormes carregamentos de pau-brasil para a terra deles, e o francês explicou que era para ganhar dinheiro e comprar coisas. O velho nativo seguia sem entender. “Mas para quê?”, perguntava ele, e completava: “Aqui, a terra nos dá tudo o que precisamos. Ela deu para meus avós, deu para mim e dará para os meus netos”.

Aquele não foi um diálogo de opiniões diferentes. Foi um diálogo de universos completamente antagônicos. Tanto que, a não ser por um breve período, eles não poderiam conviver: daquele contato entre duas culturas separadas por muito mais do que um oceano, apenas uma poderia sobreviver. E nós sabemos qual delas saiu vencedora.

Não vou cair na simplificação da ideia do Bom Selvagem e dizer que a sociedade tupinambá era perfeita e que a ocidental só tem defeitos. Mas há, entre os dois modelos, inegavelmente, uma diferença crucial, que pode ser assim resumida: enquanto uma sociedade consome para viver, a outra vive para consumir. Isso já era real no começo do século XVI, quando as praias brasileiras testemunharam aquela conversa entre o francês e o índio. Mas acelerou-se exponencialmente conforme os anos foram virando décadas, e as décadas, séculos. 

O que aquele velho tupinambá diria das filas que dão volta em quarteirões cada vez que a Apple lança um novo modelo de iPhone? No Ocidente nós fomos tão longe que as grandes empresas, hoje, trabalham com metas trimestrais. Não basta crescer e lucrar, é preciso bater recordes de crescimento e lucro. A cada trimestre.

Se os recursos naturais do planeta fossem infinitos, essa seria apenas uma questão de gostar ou não gostar desse modelo (os hippies, e os anarquistas antes deles, por exemplo, não gostavam). Não são – e nós ultrapassamos, há algumas décadas, o ponto de equilíbrio (aquele no qual o planeta consegue repor o que é consumido). Não apenas consumimos muito mais, per capita, do que quando aquele francês conversou com o velho tupinambá, como somos, hoje, mais de 7 bilhões de habitantes no planeta (indo para 10 bilhões em 2050), contra estimados 425 milhões naquela época.

NÃO TEM MAIS TERRA

Ao mesmo tempo, produzimos lixo em volumes apocalípticos, poluindo e ocupando vastas e preciosas áreas da terra e do mar. Os norte-americanos consomem absurdamente, e o resto do mundo olha para lá e quer ser como eles: mas, se todos consumíssemos naquele volume, seriam necessárias quatro Terras para bancar a festa. O consumo devastador inclui literalmente tudo, até aquilo que não vemos. Por exemplo: enquanto as torneiras refugam água em São Paulo e em outras cidades brasileiras, o país segue sendo o maior exportador mundial do precioso líquido, não na forma de um produto de luxo, como os franceses e suas garrafinhas de água Perrier, mas embutido em produtos como soja, açúcar e carnes. 

Se você leu a coluna até aqui, deve estar esperando a minha proposta para resolver o problema. Pois prepare-se para a decepção: não tenho proposta alguma. O que sei é que enquanto não começarmos a, tema polêmico, controlar a natalidade e a rever nosso modelo de hiperconsumo, não teremos saída. Estamos, de fato, indo para o abismo. Bicicleta, sacolinha reutilizável e hortas comunitárias? Ok, são boas iniciativas. Mas o buraco é muitíssimo mais embaixo. Se você duvida, volte no tempo, faça como Jean de Léry, bata um papinho com o velho tupinambá.


André Caramuru Aubert *, 53, é historiador, editor e autor do romance A vida nas montanhas (Editora Descaminhos). Seu e-mail é andre.aubert@hotmail.com


Trabalho escravo na produção de moda não tem só em Bangladesh, Brasil também

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Hasan Raza / Ap Photo

Reshma Begum foi resgatada no desabamento do Rana Plaza. Felizmente, ela sobreviveu

Reshma Begum foi resgatada no desabamento do Rana Plaza. Felizmente, ela sobreviveu

Em 2013, o edifício Rana Plaza desabou em Daca, Bangladesh, matando mais de mil funcionários da indústria têxtil. No mesmo ano, outras 377 pessoas morreram no incêndio de uma fábrica de tecidos no país. As tragédias no sudeste asiático chamaram a atenção para o ponto crítico em que se encontra o mundo da moda: enquanto marcas de fast-fashion anunciam coleções novas a cada semana com peças a menos de US$ 10, trabalhadores são abusados em algum canto esquecido do planeta. A situação é ainda mais desconcertante quando se mede o ritmo do consumo: só nos Estados Unidos, são 80 bilhões de peças vendidas a cada ano – 400% a mais do que se comprava há duas décadas.  

The True Cost, lançado em maio (e no cardápio da Netflix), tem produção executiva de Livia Firth, ativista e diretora criativa da consultoria em sustentabilidade Eco-Age. Em seus discursos e nas iniciativas que promove, Livia destaca sempre nosso atual nó ético: "Do ponto de vista do consumidor, comprar uma camiseta por R$ 15 é realmente uma vantagem ou é uma armadilha? Veja bem, as corporações estão tentando nos fazer acreditar que somos ricos justamente porque podemos comprar muito. Mas a verdade é que elas estão nos tornando ainda mais pobres. E a única pessoa que está realmente ficando mais rica é o dono da marca de fast-fashion", diz em um trecho do filme.

O Brasil tem sua dose de Estados Unidos e de Bangladesh. Por aqui ainda estamos celebrando a chegada das marcas com preços acessíveis, enquanto mantemos costureiras em regime de escravidão. Em São Paulo, isso tudo acontece em um raio de 35 quilômetros que inclui a loja da Forever 21 no Morumbi Shopping (zona sul), a última fast-fashion a causar histeria nacional, e a oficina de costura em Itaquera (zona leste), onde 14 bolivianos foram libertados em meados de outubro. "Este é um problema global", explica Leonardo Sakamoto, fundador da ONG Repórter Brasil. A organização liderada por ele trabalha no monitoramento e na divulgação de notícias sobre trabalho escravo no país: "É que infelizmente as pessoas só percebem a desgraça quando ela está muito perto".  

A tecnologia que vai mudar o mundo

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Pedro Inoue

É tão interessante viver neste momento da história, um momento de mudanças tão rápidas e profundas. Há 20 anos, a internet era um conceito desconhecido para a maioria absoluta do planeta. Se alguém falasse em 1995 que carregaríamos a internet no bolso em aparelhos chamados smartphones dali a 20 anos, ouviria um desinteressado “ahã” e a confirmação de que a pessoa falando isso estava maluca ou simplesmente “zoando”.

Pois bem, está na hora de ser maluco- zoeira novamente. Está florescendo uma nova tecnologia que pode mudar tudo o que conhecemos hoje: governos, empresas, a sociedade, as nossas vidas e a própria internet.

Essa tecnologia atende pelo nome nada atraente de blockchain (que pode ser traduzido por “corrente de blocos”). Trata-se de uma evolução construída em cima da própria internet (e que não se confunde com ela). Sua mais recente evolução é uma plataforma chamada Ethereum. Se o projeto decolar, surgirá no planeta pela primeira vez uma rede descentralizada, capaz de tomar decisões de forma autônoma e rodar “aplicações” sem que seja preciso haver uma pessoa, empresa ou até mesmo um computador específico por trás daquela operação.

Não entendeu nada? Então pense na famosa Skynet dos filmes O exterminador do futuro. Ela é capaz de tomar decisões e controlar um exército de robôs (e de fábricas, de processos industriais, de logística e assim por diante) sem a intervenção de nenhum ser humano.

O Ethereum se propõe a fazer exatamente isso. A internet transforma-se, ela mesma, em um gigantesco computador capaz de executar operações autonomamente. Imagine, por exemplo, as empresas que oferecem aplicativos para chamar táxi ou outras modalidades de transporte urbano individual. Hoje essas funcionalidades são operadas por empresas, que constroem aplicativos e supervisionam seu funcionamento. 

SERVIÇOS DO FUTURO

Com o avançar do Ethereum, esse tipo de funcionalidade pode tornar-se meramente uma funcionalidade da própria rede. Em outras palavras, os aplicativos para transporte individual nas cidades não precisarão de uma empresa por trás deles. Alguém irá programar a própria internet para realizar essa operação (por exemplo, identificar táxis que estejam nas proximidades e conectá-los com passageiros que estejam precisando de um naquele momento).

Uma vez que essa funcionalidade passa a existir na rede do Ethereum, ela é imparável. Sempre que alguém pedir um táxi (ou outro serviço) por meio dela, ela executará a função. Não haverá governo, protestos, juízes, exércitos ou oficiais de Justiça que serão capazes de fazer aquela funcionalidade parar de funcionar. Para “desligá-la” só haverá um único jeito: desligar a própria internet como um todo. Se sobrar nem que seja um pedaço dela, a funcionalidade continuará em operação.

Com isso, prepare-se para a chegada da nova geração de serviços do futuro. Eles não precisam de nenhuma empresa para serem operados. Serão embarcados na própria internet. E poderão incluir desde mecanismos incríveis para melhorar a vida das pessoas até aplicações selvagens, capazes de produzir danos em quem cruzar seu caminho. O que vai acontecer exatamente ninguém sabe. E, claro, você pode ler este artigo e pensar “ahã”. Assim como nossos antepassados teriam pensado 20 anos atrás se falássemos sobre as mudanças que a internet traria para nossas vidas.


 *Ronaldo Lemos, 39, é diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org) e apresenta o programa Navegador na Globonews. Seu Twitter é @lemos_ronaldo 


Potenciais idiotas

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Pedro Inoue

Caro Paulo, 

Tem consumo que satisfaz necessidade e consumo que satisfaz desejo. Eu não me atrevo a saber onde está a fronteira entre os dois. O que sei é que nessa fronteira reside o potencial de o humano ser um completo idiota. O antídoto para essa idiotice seria a nossa consciência, mas ela não tem tido prestígio e poder suficientes para impedir nossos erros, dos mais simples e privados aos mais catastróficos e públicos.

De certa forma, esse é o tema do livro Phishing for Phools: the Economics of Manipulation and Deception, dos vencedores do Nobel George Akerlof e Robert Shiller, resenhado por Helio Schwartsman na sua coluna da Folha no dia 11 de outubro. Veja o vídeo com o Shiller no site da Princeton University Press. É curto, vale a pena.

A conclusão do jornalista-filósofo e dos autores-economistas é que nós humanos temos fraquezas e que, por isso, tendemos a cair em tentação aos apelos do mercado que, livre, nos fará consumir o desnecessário e o errado, desenvolvendo nosso potencial de sermos idiotas. 

Para eles, a solução para evitar este mau comportamento seria a informação e a regulação. Eu poderia concordar
com eles se reguladores, informadores, empreendedores, gestores, fiscalizadores e punidores não fossem tão idiotas
quanto os consumidores. Isto é, temos um problema cultural grave porque mesmo pessoas inteligentes, bem informadas e bem-intencionadas fazem coisas erradas sabendo que são erradas e colocam a culpa no sistema, se isentando de se corrigir e endereçando a solução para a correção do sistema. O problema e a solução é o sistema, e não o ser humano. É isso mesmo?

COMPETÊNCIA E CONSCIÊNCIA

Criar regras para depois fraudá-las é um jogo de faz de conta perigoso. Criar regras para aposentar a consciência desumaniza as relações, seja na gestão, na produção ou no consumo.

Tenho visto isso nas montadoras, nas padarias de esquina, nas igrejas, nos governos... A justificativa para fazer o errado sabendo que é errado é o sistema, a corporação, o costume, a cultura.

Quando alguma organização começa a mudar a realidade para melhor, indo além da lei e do mercado, pode ter certeza de que tem algum ser humano usando sua competência e sua consciência crítica para fazer planos e gerenciar o negócio. Provavelmente é uma organização que, inovando apesar do sistema, vai liderar o mercado.

É muito old school ter um bom negócio para ganhar dinheiro que cria desequilíbrio social e ambiental e depois abrir uma ONG para corrigir o desequilíbrio criado pelo negócio. Essa conta não fecha por mais milionária que seja a fundação, porque o desafio é cultural, e não apenas econômico.

Fico imaginando qual educação a fundação do milionário estará dando aos seus jovens. Estará ensinando seu modelo de sucesso – ganha muito aqui e devolve um pouco ali – mantendo e explorando o sistema? Ou estará propondo a integração de competência com consciência para mudar o sistema?

Informação e regulação é bom, mas é pouco, muito pouco. Nossa civilização está pedindo mais que isso. Gestão, produção e consumo conscientes. (Para saber mais, akatu.org.br)  

Meu abraço saudoso,

Ricardo


*Ricardo Guimarães, 66, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é ricardoguimaraes@thymus.com.br e seu Twitter é @ricardo_thymus 


Nem só de carro e carne

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Pedro Inoue

Em rede nacional de televisão, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez seu último pronunciamento antes de deixar o cargo. No alto dos seus 80% de aprovação popular, falou dos feitos do seu governo e exaltou a felicidade de passar a faixa para a primeira mulher presidente da República, pessoa que iria levar adiante o projeto de desenvolvimento do Brasil. Ao final do discurso, com os olhos marejados, no clássico estilo paz e amor que desde a eleição de 2002 o marcou em momentos de emoção, o líder arrematou que tinha muito orgulho de saber que encerrava seu governo realizando o sonho de ver “que todo brasileiro pode ter um carro na garagem e que todo brasileiro pode comer carne todo dia”.

Talvez esse tenha sido um dos discursos mais honestos do presidente Lula. Ali, de forma escancarada para todos os compatriotas, ele disse o que para ele era importante. O carro e a carne simbolizam o sonho de consumo mais básico e natural, do ponto de vista de um trabalhador que busca melhorar de vida. São estereótipos de um status social imediato, em um país que sofreu tanto com a desigualdade social. São também exemplos herdados das classes mais abastadas e que, naquele momento, poderiam representar a tão almejada evolução na pirâmide.

Não vou cair na armadilha simplista de não reconhecer a importância social histórica da ascensão de uma nova classe média que melhorou de vida, impulsionada pelos programas sociais e pelo acesso ao crédito. Entretanto, é fundamental – até para que no futuro não cometamos o mesmo erro – fazer a reflexão crítica da ausência de uma estratégia de desenvolvimento que levasse em conta o crescimento da nossa educação, associando esse quesito fundamental da cidadania à melhoria da qualidade de vida do povo.

EFEITO COLATERAL

Infelizmente, nosso colapso educacional e a falta de uma base sólida de compreensão cidadã causam uma terrível ausência de capacidade para desbravar outras fronteiras diante de um cenário atual de crise. Além disso, a trágica situação afeta também a própria percepção que se tem da política. Curiosamente, o mesmo governo que incluiu socialmente tanta gente, agora está na berlinda com índices de popularidade ridículos, pois não consegue mais gerar as condições para que esse consumo desenfreado continue. Vive assim um certo efeito colateral da estratégia de crescimento baseado apenas no consumo.

Os beneficiados por programas de acesso ao ensino universitário, como ProUni e Fies, são uma minoria diante do todo da população que continua sem o verdadeiro acesso à educação. O problema real começa na qualidade dos ensinos fundamental e médio, e o analfabetismo funcional que assola o país comprova isso. 

A sociedade verdadeiramente desenvolvida com que sonhamos está muito além dos carros, das carnes e de qualquer outro símbolo de consumo. Só com o acesso universal à educação de qualidade se conquista a liberdade para compreender quem somos, o que queremos e aonde podemos chegar.

 

Alê Youssef*, 40 anos, é apresentador do programa Navegador, da GloboNews, comentarista do programa Esquenta, da Rede Globo, e analista político. Seu e-mail é alexandreyoussef@gmail.com e seu Twitter é @aleyoussef

Jogos da vida

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A seguir, veremos as três últimas histórias antes da cerimônia que acontece este mês no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. São elas: a da educadora Stela Goldenstein e sua esperança em mostrar a importância da recuperação de rios como o Pinheiros; a de doutor Ozires Silva e sua experiência na criação da indústria de aviação nacional; e, por fim, a do tenista Gustavo Kuerten e sua humildade e interesse genuino pelo outro. Inspire-se.

O Prêmio Trip Transformadores é apoiado por marcas com princípios alinhados à iniciativa e a seus homenageados. Este ano o prêmio tem patrocínio do Grupo Boticário, nosso parceiro desde 2008, copatrocínio de Ambev, Apex, Hyundai i30 e Santander, além do apoio de Suzano Papel e Celulose, GOL Linhas Aéreas Inteligentes, Academia de Filmes, AlmapBBDO, Update or Die e Eldorado FM 107,3.

Dr. Ozires Silva - Aprendendo a voar 

Gustavo Angimahtz

 

Ozires Silva é um dos resposáveis pela construção dos mercados de aviação civil e militar brasileiros: formado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), foi fundador da Embraer e o primeiro presidente da empresa, que começou a produção industrial de aeronaves no país. Depois, presidiu a Petrobras e a Varig e foi ministro da Infraestrutura, mas é na educação que Ozires aplica hoje sua experiência.

Aos 84 anos, é presidente do conselho de administração do grupo Ânima Educação, que tem mais de 10 mil funcionários e 141 mil alunos em diversos polos de ensino superior espalhados pelo país, e reitor da Unimonte, em Santos. “Não é um sofrimento fazer qualquer coisa nova, é excitante. Não é sair da zona de conforto. É não entrar nela”, diz o engenheiro, que tem como objetivo expandir o potencial da inovação brasileira por meio da educação. Ou, como diz o mote do grupo: “Transformar o país pela educação”.

“É uma pena que por força da idade eu tenha perdido a vitalidade que tive no passado, mas, se puder, vou continuar a contribuir mais e mais”, conta. Uma parte do reconhecimento por toda sua contribuição é visível em sua sala na sede do grupo Ânima, em São Paulo, onde acumula miniaturas de aviões estampadas com mensagens de agradecimento.

Trabalho vem antes

Foi em Bauru, sua cidade natal, que Ozires conheceu um alemão e um suíço que fugiram do campo de batalha na Segunda Guerra Mundial e chegaram ao Brasil com projetos de planadores nas malas. Frequentando um recém-inaugurado clube de aeromodelismo, onde ajudava Hendrich Kurt, o alemão, 

e Hans Widmer, o suíço, a colar peças, Ozires já sabia que 

queria construir aviões. “Se pensamos sobre aviação, o que vem é a ideia de pilotar um avião, não de fabricar”, conta. “E foi isso que essa experiência trouxe de diferente para mim.”

Mas a fabricação de aviões no Brasil não era uma tarefa fácil. “Santos Dumont sempre procurou fabricar aviões no Brasil e nunca conseguiu”, afirma Ozires, que acabou entrando para a Força Aérea Brasileira (FAB), da qual viria a ser coronel – o mais próximo que conseguiria, à época, da indústria da aviação. Depois, ingressou no ITA com bolsa de estudos e formou--se engenheiro em 1962. 

A Embraer nasceu de um projeto que Ozires liderou depois de formado: a criação e construção do Bandeirante. “O Bandeirante voou pela primeira vez em 26 de outubro de 1968. Não teve grande prestígio no Brasil, mas era o nosso avião”, diz. 

“E os americanos se interessaram.” Ozires imaginou a empresa em um formato de parceria com o governo, como a Petrobras. “Comecei a empresa do zero, sem credibilidade, e quase oito anos depois conseguimos certificar nosso avião nos Estados Unidos, e nossas vendas explodiram”, conta.

A indústria que Ozires construiu valorizou um produto genuinamente nacional, e o engenheiro atribui tudo à educação. “Fui um cara transformado pela educação. Acredito em transformar o país através dela”, diz. Mas avisa: “O único lugar em que o sucesso aparece antes do trabalho é no dicionário”.

 

Stela Goldenstein - Isso é água

Gustavo Angimahtz

 

Consumo consciente e responsabilidade ambiental são duas demandas que, diz Stela Goldenstein, ganham cada vez mais protagonismo em nossa sociedade. Stela é ambientalista e diretora executiva da Associação Águas Claras do Rio Pinheiros, organização de pessoas e empresas interessadas na recuperação do rio e de seus afluentes. “Entre os muitos rios da metrópole paulista, o Pinheiros talvez seja aquele com o qual a população mais conviveu”, comenta. “Até a década de 40, o rio era local de lazer.” 

Stela defende que a vida nasce na água, e que cuidar da água exige manobras que envolvem os mais diversos setores do poder. “É o fator mais importante para a vida”, diz a ambientalista. As grandes transformações vividas pelo rio Pinheiros tiveram início nos anos 30, quando grandes obras foram realizadas para permitir a retificação de seus meandros e a drenagem de seus brejos. A construção de barragens e bombas mudou o curso do rio, que deixou de correr na direção de sua foz original, no rio Tietê, e passou a alimentar a represa Billings. “Além disso, as áreas de entorno do rio foram urbanizadas e ocupadas. Essas obras, junto com a construção de vias expressas de tráfego, fizeram com que o rio Pinheiros se isolasse do cotidiano das pessoas antes mesmo de suas águas estarem contaminadas pela poluição.”

Stela defende que um dos setores que merecem especial atenção para uma transformação profunda é o saneamento. “Quando poluímos a Billings, precisamos procurar água em outros lugares, e vamos impactando ambientalmente lugares cada vez mais distantes”, afirma.

Outra questão levantada por Stela diz respeito à alimentação. Cada porção de terra é capaz de produzir alimentos para uma quantidade limitada de pessoas, e não é fácil alimentar uma cidade como São Paulo. “Quando se pensa em ações para uma metrópole, o leque é tão amplo que nem os governos sabem exatamente o que se deve fazer”, diz. “É fundamental articular ações em município, estado e união. Planos e metas comuns para conseguirmos atuar de forma consistente”, crê.

Florestas e cidades

Outro problema é a proteção das áreas de mananciais. “A ocupação irregular desses terrenos foi devastando florestas que deveriam ser protegidas, onde nascem as águas que abastecem represas como Billings, Guarapiranga e Cantareira”, conta Stela. “E dependemos da preservação de florestas distantes, como o cerrado e a Amazônia. A relação entre ter florestas e cidades sustentáveis é direta.” Ainda há, destaca Stela, a situação dos pequenos proprietários. “A tendência é que eles vendam sua terra e rumem à cidade, perdendo renda, inserção e qualidade de vida”, diz a ecologista, que alerta para a falta de políticas que garantam subsídios fundamentais para a manutenção da terra do pequeno proprietário.

Mesmo com uma visão realista sobre o futuro do meio ambiente, Stela acredita que o trabalho deve continuar. “Perceber que as pessoas estão se preocupando faz com que a gente mantenha a motivação. Existem pequenos resultados, como ver que as pessoas e os governos estão mais atentos. Meu sonho é não parar, nunca.”


Guga Kuerten - Jogo da transformação

Gabriel Rinaldi

Gustavo Kuerten, tricampeão de Roland Garros, que abandonou as quadras por conta de uma lesão no quadril há 14 anos, sempre enxergou no esporte um caminho para melhorar o país. Guga, hoje, joga sua mais importante partida: cuida do importante legado que construiu com sua família, o Instituto Guga Kuerten (IGK), que desde 2000 mobiliza esforços, recursos e estabelece parcerias para o desenvolvimento de ações sociais, movimentando mais de 250 milhões de reais por ano. 

A paixão pelo esporte que transmitia aos brasileiros que o acompanharam durante sua carreira pode ser equiparada à de grandes ídolos como Senna ou Pelé, e é essa paixão o motor que o tenista usa para inspirar jovens hoje em dia. 

Assim como aconteceu com a carreira de Guga, o IGK está crescendo aos poucos e de forma planejada. Com o sucesso do tenista brasileiro e suas vitórias, a família Kuerten pôde exercitar cada vez mais sua responsabilidade social. O instituto contribuiu ativamente para incluir pessoas com menos capacidades motoras e mentais no mercado de trabalho por meio de um fundo que apoia projetos sociais, além de manter programas como o Cam-peões da Vida (ações educativas realizadas por meio do esporte) e o Ações Especiais (que defende os direitos do cidadão e propõe ações políticas para que esses direitos sejam preservados). 

O foco do trabalho do instituto é com crianças que tiveram menos oportunidades ou que estão em situação de risco, oriundas de realidades de violência ou pobreza. Em todos os dias de atendimento, as atividades são desenvolvidas nas oficinas de tênis, esportes complementares e culturais, em um trabalho interdisciplinar com as áreas de artes cênicas, biblioteconomia, educação física, informática, jornalismo, pedagogia, psicologia e serviço social.

Todo poder às crianças

A família de Guga é fundamental para o instituto. Ao seu lado, sua mãe, Alice Kuerten, e seu irmão, Rafael, controlam a parte administrativa da fundação. “Esse ambiente profissional traz uma unidade muito forte”, conta Guga. O instituto conta ainda com 90 funcionários e estagiários. Quando o assunto é Brasil, Guga é otimista. “Precisamos começar a promover intensamente a cidadania, a consciência, o caráter e a decência”, defende. “Só assim teremos condições de entender a importância de nossas escolhas e de assumir as responsabilidades por elas.” Guga acredita que a educação é o caminho mais curto para mudar o Brasil. “Leva tempo, mas precisamos começar”, diz. “Precisamos investir todas as forças em nossas crianças e jovens, sempre.” 


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